Sunday, March 18, 2007

Restabelecimento e a Natureza do Inkatha, 1975-1994

Inkatha foi um movimento dinástico e cultural dos anos vinte que ressurge em 1975 no Kwazulu Natal como um movimento de massa fiel a Buthelezi na luta contra o apartheid. E este usou o nacionalismo Zulu, o etno-nacionalismo, educação e a violência contra os seus opositores para consolidar o Inkatha como a única organização capaz de representar e liderar o povo Sul africano, em particular, os zulus na luta contra o अपर्ठेइड

Contextualização
Para uma melhor compreensão sobre este movimento de massa que ressurge em 1974, é imprescindível recuar no tempo, nomeadamente em 1920 para observarmos a origem deste movimento. Visto que algumas características e estruturas fundamentais voltam a reaparecer em 1975 quando se forma o segundo Inkatha que iremos abordar.
Os primeiros passos para a formação do Congresso Nacional Zulu mais tarde renomeado Inkatha, inicia com o Rev. Samuel D. Simalane que vivia no distrito de Nongoma, do chefe Mathele Buthelezi ( Zululândia) e alguns indivíduos proeminentes que viviam no distrito de Vryheid e Ngotshe ( norte do Natal).
Em 1921 acompanhado pelo conselheiro da família real Zulu, Mnyaiza Kandabaku, Simelani pediu uma permissão oficial ao governo do apartheid, para discutir com o chefe comissionario dos nativos (africanos), como é que os Zulus poderiam responder a Native Affairs Act de 1920. Neste encontro realizado a 21 de Março, Simelane disse que tinha o apoio total do rei Zulu para organizar um encontro anual de acordo com a lei de 1920, para discutir questões relacionadas a promoção da assistência social ao povo. Para o efeito, pediu permissão para a criação de uma cooperativa agrícola na Zululândia. (Cope, 1990:444)
Esta petição de Simelane favorecia mais os zulus do Natal (Kholwa-africanos cristão) e chefes tribais que queriam ter terras e fazendas para desenvolver actividades comercias. Por isso criou-se um Fundo Nacional que angariava fundos para canalizar em projectos de agricultura. Este fundo era controlado por Simelane (secretario), Monkulumana ka Samaplunga Ndwandwe (tesoureiro) e Mnyaiza ( presidente). ( idem:445)
O rei Salomon ao dar total apoio a Simalane tinha objectivo de ressuscitar a unidade e respeito que o povo tinha aos membros seniores da tribo, chefes e a família real zulu. Ao mesmo tempo a pequena burguesia africana no Natal ao criar este movimento cultural pretendia usar o tradicionalismo zulu como um instrumento politico para o desenvolvimento económico. (Maré e Hamilton, 1987:46)
Foi a partir de 1923 que o nome inkata passou a ser usado para descrever este movimento cultural que Simelane dirigia.[1] A primeira reunião deste movimento realizou-se em 1924 na residência do rei Salomon. Nesta reunião, apequena burguesia africana do natal, a elite tribal e uma parte da comunidade kholwa do Natal lançaram oficialmente o inkata como um movimento dinástico e cultural que iria manter a nação zulu firme e unida. (idem: 1990: 448).
Em 1928 este movimento rejuvenesceu através da criação de uma nova constituição, escrita pela pequena burguesia e a elite tribal com apoio de alguns advogados brancos de Durban que operavam por detrás desta organização para obter o açúcar do Natal. Esta constituição desenhada por J. H. Nicholson, que foi incentivado por George Heaton da União dos plantadores da África do Sul e Zululândia e os grandes segregacionistas, assegurava também os interesses da pequena burguesia conservadora Africana e a elite tribal.
Os farmeiros comerciantes e cultivadores brancos incentivaram Nicholson a elaborar uma nova constituição porque também pretendiam “retribalizar” a sociedade zulu e estabelecer laços mais estreitos com a elite tribal e particularmente a família real Zulu cuja os interesses convergiam. E para conseguir esta "retribalização" Estado já havia decretado em 1927 a “Native administration act”. Com esta lei os agricultores regionais com prenderam que para impor os seus interesses era necessário garantir a mão-de-obra barata zulu que se estava perdendo na industria mineira.( Maré e Hamilton, 1987:49)
Para além disso este primeiro inkata apesar de ser um movimento cultural dinástico que representava a nação zulu, alguns dos seus lideres eram membros do ANC e por isso não se impunham a esta organização. Caso do John Dube, que foi presidente do ANC e membro do Inkatha.
[1] O Inkatha original era uma corda real enrolada com tecidos de ervas contendo ingredientes de significado místico, que representava a unidade, pureza espiritual da nação, o poder supremo e símbolo do reino Zulu। Este Inkatha original foi passando de rei para rei até 1879, altura em que os britânicos destruíram a residência do rei Cetswayo em Ondini (Ulundi)। O Inkata tinha objectivo de manter firme a nação Zulu. A corda enrolada simbolizava a união do povo porque só assim eles não estariam dispersos. (Marre, Hamilton, 1990:448)

Conclusão
Ao finalizarmos a nossa analise sobre este movimento dinástico e cultural dos anos vinte que ressurge em 1975 como um movimento de massas fiel a Buthelezi na luta contra o apartheid dentro do bantustão de Kwazulu Natal, devemos faze-lo em três grandes fases; 1975-1979; 1980-1989; 1990-1994
Na primeira fase de 1975 até 1979 encontramos um Inkatha moderado, liderado pelo chefe Mangosuthu Gatsha Buthelezi, membro da família real e primeiro ministro do Kwazulu, um tanto quanto acomodado no seu objectivo secreto( ate ai) de transformar o seu movimento numa única organização capaz de substituir o ANC na exílio na liderança do povo zulu em particular. Estas evidências começam aparecer logo após a formação do Inkatha, quando Buthelezi afirma que todo o povo Zulu é automaticamente membro do Inkatha. Estes discursos nacionalistas tinham maior impacto nas zonas rurais que urbanas. Para além da história, língua, orgulho, respeito, o seu discurso etnonacionalista baseava-se na identificação dos zulus como zulus antes de ser africano.
Outras evidencias estão patente nas campanhas anti-SAIC(Conselho dos indianos da África do Sul) por este não se filiar no SABAC( União dos Negros da África do Sul) na luta contra o apartheid. Para alem disso devido a política de violência, sanções, desistabilização governamental, protagonizada pelo ANC no exílio e um referendum que demonstrou que a maior parte dos zulus estavam com o Inkatha, Buthelezi em 1979 em Londres, cortou relações com o ANC no exilo, visto que aparentemente os seus objectivos já estavam a se materializar
A segunda fase que inicia em 1980 vai demonstrar que o Inkatha não é o único movimento que representa as massas na luta contra o apartheid. Estas demonstrações ocorrem através de estratégias da luta armada, sanções e desestabilização defendido por ANC, PAC e outras organizações que surgem depois da legalização dos sindicatos para os negros em 1979 por Pieter Botha, tais como a COSATU.
Este é um período que o apartheid devido a violência praticado por membros do Inkatha com o aval da policia, principalmente nas escolas por estas serem consideradas centros de rebelião por não aceitarem as reformas educacionais introduzidas por Inkatha que servia para fomentar o tribalismo, decretou entre 1984-1986 o estado de emergência. Mas com o apoio da policia o Inkatha consegue consolidar-se a nível regional e descobriu que os seus inimigos não eram somente os oponentes políticos mas também os zulus que rejeitavam a versão etnicidade politizada.
Frederik de Klerk, presidente substituto de Pieter Botha, que se demitiu por questões de saúde, inicia esta ultima fase dando continuidade as reformas do seu antecessor. Por um lado isto deveu-se a pressão da comunidade internacional e a instabilidade interna. Logo após a toma de poder em pouco tempo, legalizou os partidos que haviam sido banidos( ANC, PAC e partido comunista), libertou Nelson Mandela, eliminou as ultimas leis do apartheid e acima de tudo iniciou negociações com ANC e outras organizações para marcação de primeiras eleições multirraciais e democráticas.
Apercebendo-se que a maior parte do povo Zulu estava a favor de Mandela(ANC), Buthelezi e De Klerk tentaram inviabilizar o processo de negociações para a realização de eleições. O primeiro através de fomentação de conflitos e violências de carácter étnico no Transval, com excepção do Natal e centros industriais, acusando Mandela de ser xhosa e querer dominar os zulus. O segundo tentou através da realização de referendum e aliança com o Inkatha a qual culminou no escândalo que ficou conhecido como Inkathagate. Mais depois de vários acordos assinados e impasses realizaram-se eleições em 27 de Abril de 1994, que demonstrou que o Inkatha não representava a vontade do povo zulu no geral, através da vitoria de Nelson Mandela e ANC.


Cronologia

1924-Criação do primeiro Inkatha
1943-Formação da Liga da Juventude
1959- Formação do Congresso Pan-Africano(PAC)
1960-Massacre de Shapervelle
1961-África do Sul é declarada Republica. Baneamento do ANC e PAC.
------ Nelson Mandela forma Unkhonto we sizwe.
1963-Nelson Mandela é condenado a prisão perpetua
1975-Restabelecimento do segundo Inkatha
1976-Estudantes de Soweto e outras cidades revoltam-se contra a educação bantu
1979 –Buthelezi e Inkatha cortam relações com ANC.
------- Pieter Botha legaliza a formação de sindicatos para os negros na África do Sul.
1983-Fundação da Frente Unida Democrática (UDF)
1984-1986-Declarado Estado e emergência pelo governo do apartheid devido a resistência em todo ao pais.
1985-Formação da União dos Trabalhadores Comerciantes da África do sul. ( COSATU)
1986-Formação da União dos trabalhadores Unidos da África do Sul. (UWUSA)
1989-F. De Klerk substitui P. W. Botha na presidência da África do Sul.
------Forma-se o partido democrático. E lançasse o movimento Pan-Africanista.
1990-O presidente De Klerk liberta Nelson Mandela, reaciona o ANC, o PAC e o SACP.
----- Iniciam-se negociações para uma constituição democrática
1990-1992-Periodo mais violento do regime do apartheid nas estalagens do Natal, Transval e centros industriais.
1991-Formação da CODESA (Convenção para a Democracia da África do Sul)
1992-Quase 70% dos brancos votam a favor do referendum pedido por De Klerk para continuar com as reformas.
1994-Realização de primeiras eleições democráticas não-racial para um governo de unidade Nacional.
-----Nelson Mandela torna-se Presidente com Thabo Mbeki e F.W.de Klerk como vice presidentes. M. G. Buthelezi torna-se ministro do interior.

Fonte: Maré, G. Hamilton.G. An appetite for power: Buthelezis Inkatha and politics of loyal resistance. Johannesburg: Ravon Press, 1987:45-208
Eads, Lindsay Michie. The End of Apartheid in South Africa. London: Greenwoods Press, 1999; 60-71
BASKIN, Jeremy. Striking Back: History of COSATU. Johannesburg: Ravan press, 1991: 21-112
READERS DIGEST. Illustrated history of South Africa: The Real History. 2 ed. Cape Town: The reader’s digest association limited, 1992: 368-369.