Monday, February 15, 2010


Mattos, Carmen Lucia Guimaraes de. A abordagem etnográfica na investigação cientifica. UERJ, 2001

Ao longo do texto a autora (p1-2), para além de definir a etnografia como o estudo dos padrões mais previsíveis do pensamento e comportamento humanos manifesta em sua rotina diária, fatos e/ou eventos menos previsíveis ou manifestados particularmente em determinado contexto interativo entre as pessoas ou grupos, ela procura demonstrar a contribuição da etnografia na investigação cientifica de estudo qualitativo, particularmente das desigualdades e exclusões socias. Para ela, fazer etnografia implica:

· Preocupar - se com uma análise holística ou dialética da cultura, isto é a cultura não deve ser vista como um mero reflexo de forças estruturais da sociedade, mas como um sistema de significados mediadores entre as estruturas sociais e ação humana;

· Introduzir os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica e modificadora das estruturas sociais;

· Preocupar - se em revelar as relações e interações significativas de modo a desenvolver a reflexividade sobre a ação de pesquisa.

De acordo com Mattos (p2), “Tanto a etnografia mais tradicional como a moderna, envolvem longos períodos de observação, um a dois anos, preferencialmente.” Este período é necessário para o pesquisador entender e validar o significado dos dados de forma que este seja o mais representativo. Mas para entender o significado da etnografia aplicada a pesquisa social e educacional, é preciso entender a distinção entre a etnologia a etnografia. Estas duas abordagens se unem pelo interesse comparativo e a conexão histórica que possuem.

A etnologia é o estudo comparativo do modo de vida dos seres humanos. Apareceu nos estudos antropológicos ingleses, 50 ou 60 anos antes de aparecimento da etnografia. Por sua vez, a etnografia é o estudo observacional mais holístico do modo de vida das pessoas. Ela é a especialidade da antropologia que tem por finalidade estudar e descrever os povos, sua língua, raça, religião, e manifestações matérias de suas atividades. (p.3-4) Ela é parte ou disciplina integrante da etnologia, ela é a forma de descrição da cultura material de um determinado povo.

O autor salienta que “ a descrição da etnografia depende das qualidades de observação, de sensibilidade ao outro, do conhecimento do contexto estudado, da inteligência e da imaginação cientifica do etnógrafo” (p.4)

A etnologia e a etnografia distinguem-se nos estudos de casos comparativos. A etnografia se interessa pelo estudo do particular para o geral, método indutivo. Ou seja procura analisar detalhadamente todos os tipos de variações que ocorrem dentro de uma sociedade local de uma ordem social ou um grupo de pessoas que se reúnem para socializar. (p6). Ela procura descrever os fenômenos de uma forma densa, completa e procura interpretar o significado das perspectivas imediatas que eles têm do que eles fazem.

Nos estudos da linguagem, a etnografia usa a mico análise etnográfica, para estudar um evento ou parte dele, ao mesmo tempo em que dá ênfase ao estudo das relações sociais em grupos como um todo, holisticamente. A micro análise etnográfica é caracterizado como: sociolingüística da comunicação, micro análise sociolingüística, sociolingüística interacional, análise do contexto, análise de discurso, análise da conversação” (p.5)

Ela exige do pesquisador “um detalhadamento criterioso na descrição do comportamento através da descrição lingüística verbal e não verbal do comportamento – olhares, pausas, tom da voz, detalhes da interação e o que isto significa (p.5). E a procura da totalidade das variações manifesta numa ação, fato, fenômeno, ou a situação na qual estamos interessados. (p8).

Na perspectiva dialética da relação ecológica entre os vários atores sociais ou grupos numa comunidade ou instituição, movimento histórico vivenciado pelos atores sociais num determinado espaço de tempo, procura-se estudar as relações entre os vários fenômenos e não apenas um fenômeno particular. (p.8)

A etnografia apesar de basear-se na abordagem dialética que privilegia a totalidade dos fenômenos e não o tratamento isolado, ela procura as vezes usar a estatística como método de tratamento de dados de uma forma sensível para análise etnográfica. (p.9)

De acordo com a autora (p.10), na abordagem dialética da análise de um contexto devemos evitar o estudo de um fragmento da fala isolado, destacado do que esta significa para a pessoa que falou e para as outras pessoas dentro do contexto. Devemos observar em detalhe a ação verbal e não verbal na cena em que ocorre a interação e o evento de fala.

Entende-se aqui por “interação como um processo que ocorre quando pessoas agem em relação recíproca, em um contexto social”, porque existe uma nova atividade acontecendo a cada momento, existe um novo momento da historia ocorrendo a cada movimento social cotidiano. Este conceito implica distinção entre ação e comportamento (p10). “Comportamento implica tudo o que o individuo faz. A ação é um comportamento intencional baseado na idéia de como outras pessoas a interpretarão e a ele reagirão”. (idem)

Ao pesquisarmos a organização dos processos de interação é interessante estudarmos como as pessoas em interação formam ambiente um para o outro, até mesmo além do limite desta interação imediata, onde sempre existe o interesse nas relações ambientais ( p.9)

Ao finalizar o autor demonstra que a ironia da abordagem etnográfica é o que o etnógrafo tenta fazer continuamente: falar sobre organização da interação no contexto de modo que esta fala seja significativa para os autores sociais que estamos investigando ( p.10). Esta é uma tarefa muito difícil “pois procura-se usar termos que são os mais próximos possíveis daqueles usados pelos autores sócias, termos que eles usariam se lhes fossem permitido falar” (p11)

Ao escrevermos uma narrativa, temos que colocar os atores como eles se apresentam sob a perspectiva deles. Para isso é importante se conhecer o significado local da ação. (Idem)

Ela chama atenção de que, a irônica dificuldade deste trabalho é que, apriori, nunca conseguiremos dar conta da tarefa – descrever o outro sobre o ponto de vista dele mesmo. Na melhor das intenções, podemos chegar mais perto da ação que esta realmente acontecendo, mais isso não é suficiente.

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