Monday, February 15, 2010

VIDICH, Arthur J.; LYMON, Stanford M. Métodos Qualitativos: sua historia na sociologia. In: DENZIN, Normam K.; LINCOLN, Yvonnas S. O Planejamento da pesquisa qualitativa: Teorias e abordagens. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006

Ao longo do texto o autor procura demonstrar a origem da etnografia ligada à sociologia e antropologia na preocupação de compreender o “outro” e como elas serviram os interesses da igreja e dos governos ocidentais em diferentes épocas e contextos.

No final ao analisar alguns desafios que a etnografia tem enfrentado na atualidade, ele refere que os etnógrafos, libertos das amarras do passado, hoje dão mais atenção aos relatos feitos pelos nativos a cerca dos seus descobridores ocidentais e desprivilegiam os relatórios apresentados pelos descobridores com base na metodologia indutiva e não comparativa como no passado.

Para VIDICH, Arthur J.; LYMON, Stanford M. (p.52), o termo etnografia refere-se a subdisciplina da antropologia descritiva. Em sentido lato ela é a ciência que descreve o modo de vida da humanidade. Como ciência ela é a descrição cientifica social de um povo e da base cultural da sua consciência de unidade enquanto povo.

No século XV e XVI a etnografia desenvolveu-se no âmbito de interesses das potencias ocidentais em estudar a origem da cultura e da civilização dos povos ditos “primitivos” por serem menos civilizados do que eles.

Na época renascentista ela se preocupou em explicar as origens dos “outros”, as historias e o desenvolvimento de uma multiplicidade de raças, de culturas e de civilizações, devido a diversidade racial e cultural. (idem)

Entre os séculos XVII e XIX, os missionários, exploradores e administradores colônias passaram a descrever e avaliar a cultura do “outro’ nas colônias com objetivo de conhece-lo para dominar e “civiliza-lo”. Nesta fase os etnógrafos sentados nos seus gabinetes, baseavam nos relatos destas individualidades que iam ou estavam no campo para fazer a etnografia.

A mesma visão de descrever o “outro” sob a perspectiva dos conquistadores euro-americanos e dos seus aliados missionários encontramos também entre os etnólogos no mesmo período (sec. XVII e XIX) no continente Americano, particularmente no EUA, em relação a cultura dos índios (indígenas). (p.57)

No entanto, devemos referir que, a etnografia de diversas tribos indígenas (índios) foram escritas por etnólogos a serviço do Bureau of Indian Affairs ( BIA_ Divisão dos assuntos indígenas) (idem)

Esta visão de estudar o outro como primitivo ate certo ponto foi influenciado pelas idéias de Augusto Comte. Para este autor , a compreensão da relação de modo de vida do ocidente com a dos outros povos, devia ser analisada segundo o método comparativo. De acordo com ele “o estudo da evolução da cultura e da civilização postulavam-se em três estágios: selvagem (primitivo), barbárie e civilização. E firmava-se na idéia de que os povos e as culturas do mundo podem ser organizadas diacronicamente, formando uma grande corrente de ser (p54-55). Além do mais, são interpretáveis como elos ordenados nessa corrente, marcando o decorrer das épocas a medida que essas sociedades deixavam de viver em uma cultura primitiva e partiam para a civilização moderna. A imposição de uma estrutura eurocêntrica de desenvolvimento preconcebidos simplificou bastante o trabalho do etnógrafo, o qual assumiu a tarefa de um classificador de traços de culturas em transição ( p55).

No final do século XIX e principio do século XX nos EUA através de um levantamento estatístico com finalidade de determinar o numero de habitantes de cada credo religioso, nacionalidade e raça, e os problemas de adaptação de cada grupo, o “ outro” foi transformado em agregado estatístico e relatado em um censo tabelar de estilo de vida exótico. A elaboração dos relatórios quantificados desse levantamento, foi patrocinado no principio pela igreja do leste dos Estados unidos, e posteriormente por corporações envolvendo imigrantes e negros e posteriormente pelo governo. (p59). A igreja estava interessada na “reforma da moral” e na adaptação social dos recém chegados (imigrantes) e das populações do gueto (negros) . Assim, com a missão crista teve origem a pesquisa qualitativa. (idem)

Segundo o autor (p59), a “a coleta e análise dos fatos sociais eram tanto atividade religiosa como cientifica oferecida como uma forma de oração pele redenção de pessoas de pele escura”

O primeiro estudo etnográfico (O negro da Filadélfia) nos EUA sobre a população negra, que visava não apenas descrever mas apresentar propostas de melhoria das condições sociais, foi realizado por W. Du Bois). (idem)

No principio do século XX , a Helen e Robert Lynd receberam patrocínio da a igreja e algumas corporações para estudar a comunidade de Middletown. Neste estudo “o outro” (comunidade de cidadãos americanos) foi abordada da mesma forma que um antropólogo lida com uma tribo primitiva.

Em 1937, na sua obra sobre Middletown in transition: Study in cultural conflicts, os Lynds promoveram uma mudança do foco sociológico em relação aos valores religiosos para políticos (p.60). Referir que mesmo antes do estudo de Lynds, a etnografia enquanto método de pesquisa já havia se identificado com a sociologia no departamento de sociologia da Universidade de Chicago. Durante mais de três décadas a etnografia urbana no departamento de Chicago concentrou-se na descrição dos problemas sociais, políticos e culturais da área natural do gueto, favelas e pequenas cidades. (p.61)

Nos meados do século XX, Franklin Frazier (p.63), em seus estudos sobre o “outro” negro norte americano como cidadão, baseando-se na historia de vida dos sujeitos e da sua experiência pessoal, destaca a exclusão social dos negros do ideal americano.

Por sua vez, William Foote White através da observação participante em Corneville deu uma nova contribuição etnográfica na escola de Chicago ao descrever os dados de campo a partir da perspectiva de suas relações com os sujeitos estudados, onde o outro passou a ser um pesquisador e irmão dos moradores do gueto (p.63)

Na década sessenta, nos estudos da minoria étnica e raciais, os etnógrafos passaram a estudar também o “outro” no processo e progresso de assimilação, da aculturação e da amalgamação entre o multiuniverso dos povos da America.

No século XX com o fim do colonialismo em África e Ásia, surgem criticas contra a corrente etnocêntrica ocidental, particularmente na idéia do “primitivo” e de toda a linha de raciocínio etnológico que o acompanhou.

Diante da diminuição de trabalho de campo, os recursos foram canalizados para estudos de lingüística, banco de dados de arquivo de Yale ou a descobertas de possibilidades etnográficas para investigações antropológicas da sociedade americana. A antropologia volta para casa, retorna ao estudo da sua própria sociedade. (p56)

Durante a guerra fria começou a surgir mudanças em vários países do mundo, passando adotar uma nova estrutura institucional social, política e econômica. É com base neste padrão que os cientistas sócias passaram avaliar a evolução da humanidade. Esse novo padrão proporcionou o etnógrafo analista uma nova medida para avaliação do programa do outro. (idem)

Atualmente o método etnográfico não é utilizado mais para servir os interesses colônias, da igreja, corporações ou do governo como no passado com uma visão eurocêntrica e sua inadequação metodológica (através do método comparativo comparavam a cultura do “outro” dito povo primitivo com a cultura ocidental, considerada povo civilizado). Os etnógrafos hoje declaram-se auto libertos das amarras do passado. (p.69) E enfrenta o desafio de não ser um mero observador da história, mas participar das narrativas reais do campo, pois a nova etnografia abrange diversos temas que são limitados apenas pela variedade da experiência na vida moderna (p.73) Para o efeito, ele deve desconstruir todas as teorias e discursos estabelecidos a favor de um ceticismo critico abrangente em relação ao conhecimento. E procurar liberta-se do seu medo de tornar-se um “primitivo no campo” e lutar contra a afirmação de que a imaginação eurocêntrica atende praticamente todos os relatos do mundo “primitivo” (p71)

Através do método indutivo, o etnógrafo pós moderno concentra-se na mídia que confere a imaginação a vida real ou seja a representação. Ao mesmo tempo enfrenta o problema da imparcialidade do investigador e do sujeito, pois somos afetados pelo nosso sistema de referencia e do contexto em que estamos inseridos (p.70)

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